Um homem adulto agrediu uma criança de quatro anos durante uma apresentação de festa junina em uma escola do Distrito Federal. O episódio foi registrado em vídeo. Outro pai reagiu e o que era pra ser um momento lúdico para as crianças acabou como caso de polícia. Essa é a notícia.
Nesta notícia não há contexto que justifique a agressão de um homem adulto a uma criança de quatro anos. Não há atenuantes.
Após a repercussão, passou a circular a versão de que o filho do agressor seria alvo constante de agressões pela criança agredida. Ainda que fosse verdade — e até agora não há provas disso —, essa alegação jamais poderia ser usada como justificativa para violência. Se uma criança está sendo vítima de agressões recorrentes na escola, a responsabilidade de intervenção é da instituição e das famílias, nunca uma “vingança” direta e brutal.
O que vimos foi um adulto sem maturidade para lidar com um conflito infantil. Um homem que, em vez de buscar diálogo com a escola, com outros responsáveis ou com profissionais preparados, escolheu resolver rivalizar fisicamente e mentalmente com uma criança de quatro anos. Isso revela mais do que um ato isolado e violência: mostra o despreparo emocional de muitos adultos que ainda não compreendem o papel que deveriam exercer no mundo.
Não é a primeira vez que isso acontece, infelizmente. O Brasil tem um histórico alarmante de violência contra crianças e adolescentes. Crianças pequenas são especialmente vulneráveis e dependem da proteção dos adultos à sua volta. Quando quem deveria proteger, agride, toda a lógica da infância é traída.
É ainda mais preocupante é ver outros adultos tentando justificar o injustificável. Muitos se colocam no lugar de “juízes” de uma criança de quatro anos, exigindo dela maturidade emocional, controle e compreensão que – não! – ela não possui. E são as mesmas pessoas que, no trânsito, em casa ou no trabalho, dão “birras” quase que diárias, têm explosões de raiva, reações desproporcionais, emburram diante de negativas.
Se há um debate a se fazer, que seja sobre a necessidade urgente de educação emocional nas escolas, nas famílias e na sociedade. Que seja sobre o fortalecimento de vínculos. Que seja sobre a responsabilidade adulta de proteger, acolher e ensinar – nunca agredir.
A criança vítima dessa violência precisa de apoio. A escola precisa de respaldo para garantir um ambiente seguro. E nós, como sociedade, precisamos dizer com todas as letras: nada justifica um adulto agredir uma criança. Nunca.
(Por Lênia Soares)