Os bebês reborn, bonecos que imitam bebês reais, têm ganhado destaque no Brasil, tanto pela sua popularidade na internet quanto pelas controvérsias que geram. Criados com detalhes minuciosos, os bonecos hiper-realistas conquistaram colecionadores e entusiastas, mas também têm causado confusão e até mesmo se tornado objeto de disputas judiciais.
Mas, afinal, o que são esses bonecos que impressionam com sua semelhança com os seres humanos?
Os bebês reborn são bonecas artesanais que imitam recém-nascidos com extrema precisão. Os artistas “reborners” aplicam técnicas detalhadas para criar características realistas, como pele, cabelo e peso. Eles são usados para coleção, terapia ou apoio emocional para pessoas que passaram por perda.
Os reborn (renascer, em tradução livre em inglês) ganharam popularidade nos anos 90 nos Estados Unidos (EUA), quando artistas começaram a criar bonecos extremamente realistas. Inicialmente, esses bonecos eram usados para treinamento médico e de primeiros socorros.
A primeira boneca reborn famosa foi criada em 1999 pela artista alemã Karola Wegerich para consolar um amigo que perdeu um bebê. Desde então, o estilo se espalhou pelo mundo e agora volta.
Quanto custa um bebê reborn?
O preço dos bebês reborn varia. Versões mais simples podem ser encontradas em lojas de brinquedos por cerca de R$ 700.
Já os modelos artesanais feitos a partir de kits personalizados, com detalhes únicos, como pintura realista, cabelo implantado e que vem acompanhados de acessórios como roupas, mamadeiras e certidão de nascimento, possuem um valor mais alto, podendo chegar a quase R$ 10 mil.
Febre
As bonecas reborn são apreciadas não só por sua aparência realista, mas também pela experiência única que oferecem. Algumas lojas criam um ambiente de maternidade, onde os clientes podem personalizar o “bebê” com nome, certidão de nascimento e até assistir a um “parto” simbólico. Isso atrai colecionadores e curiosos, que se encantam com os detalhes e realismo. A personalização torna cada boneca única, aumentando seu valor sentimental e de mercado.
Nas redes sociais, “mães reborn” compartilham sua rotina com os “bebês”. Isso inclui dar banho, mamadeira, colocar para dormir e levar ao hospital, gerando polêmica na web.
Influenciadores como Nane Reborn, que coleciona bonecos hiper-realistas, têm milhões de seguidores nas redes sociais, compartilhando seu dia-a-dia e sua coleção. A popularidade dos bonecos reborn cresceu tanto que até celebridades começaram a adotá-los.
Um exemplo é a musa fitness Gracyanne Barbosa. Em suas redes sociais, ela compartilhou. “Meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo achei estranho, mas Benício me trouxe felicidade. Te amo, bê!”, postou.
A modelo e influenciadora Nicole Bahls também aderiu à tendência dos bebês reborn e compartilhou fotos em suas redes sociais. No entanto, seu boneco é a réplica de animal (um porquinho).
Impacto social
As bonecas reborn têm um impacto em várias áreas, desde o colecionismo até a terapia. Para muitos, elas representam uma conexão emocional especial com a infância ou maternidade. Além disso, são usadas em terapias para lidar com perda ou solidão.
Briga por guarda compartilhada
Por outro lado, algumas polêmicas envolvem as reborn. Em Goiânia, um casal pretendia disputar a guarda de uma boneca reborn na Justiça. A advogada Suzana Ferreira revelou a situação em vídeo publicado nas redes sociais, após ser procurada por umas das partes envolvidas.
Segundo a advogada, ela se recusou a defender o caso por considerar juridicamente impossível uma ação de guarda para um objeto inanimado.
A cliente da advogada, que se considera “mãe” da boneca reborn, queria uma decisão judicial para garantir a posse do “neném” após o término do relacionamento. O ex-companheiro também reivindicava a posse, alegando apego emocional. A mulher queria regulamentar a guarda da boneca, pois ela fazia parte da “família” que haviam formado juntos.
Projetos de lei
Outra polêmica que envolve as reborn são as propostas discutidas na Câmara dos Deputados e assembleias legislativas de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O deputado federal Zacharias Calil (União-GO) protocolou nesta quinta-feira (15) um projeto de lei na Câmara dos Deputados para tratar dos bebês reborn.
A proposta prevê multa para quem usar esses bonecos para obter benefícios destinados a crianças e seus responsáveis. Embora seja a primeira proposta no Congresso Nacional, outros estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais já têm projetos semelhantes em andamento.
Os vereadores do Rio de Janeiro aprovaram um projeto de lei no último dia 7 de maio que inclui o Dia da Cegonha Reborn no calendário da cidade. A proposta, que agora depende da aprovação do prefeito Eduardo Paes, visa homenagear os artistas que criam bonecos reborn realistas.
Atendimento no SUS
O deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) propôs um projeto de lei que busca proibir o atendimento de bebês reborn em serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). O parlamentar justificou que o PL tem como objetivo proteger “aqueles que realmente necessitam dos serviços públicos e que já enfrentam desafios suficientes” para obter atendimento.
“É alarmante ver o quanto as pessoas se sentem solitárias e desconectadas, buscando a fuga da realidade e tentando suprir seus vazios com esse tipo de brinquedo de madame. Eu valorizo os artistas que são capazes de criar e produzir algo tão realista como o bebê reborn, mas quando isso se transforma em uma fuga emocional, criando uma realidade paralela que sobrecarrega os nossos serviços públicos, alguém precisa dar um basta”, defendeu Cristiano.