O Ipasgo Saúde chegou a 2019 em uma das situações mais críticas de sua história, resultado de um longo período de fragilidade administrativa, desequilíbrio financeiro e sucessivas investigações sobre irregularidades ocorridas em gestões anteriores. O cenário herdado exigiu uma intervenção profunda do Estado, que destinou cerca de R$ 480 milhões para restabelecer o funcionamento do plano de saúde dos servidores públicos.
Entre 2011 e 2018, período que abrange os mandatos do então governador Marconi Perillo (PSDB), o instituto foi alvo de algumas das maiores investigações policiais já registradas no setor público goiano. Apurações conduzidas pela Polícia Civil apontaram a existência de esquemas de fraude envolvendo o sistema de credenciamento do Ipasgo, com impacto direto na sustentabilidade financeira do plano.
De acordo com as investigações divulgadas na época, um grupo organizado, composto por servidores da área de tecnologia da informação, teria atuado na inclusão irregular de clínicas, médicos e laboratórios no sistema. Esses prestadores passaram a receber repasses sem a comprovação da efetiva prestação dos serviços. Em um dos casos investigados, um único beneficiário teria sido vinculado, de forma fictícia, à realização de cerca de 200 exames de sangue.
Estimativas apresentadas pelas autoridades policiais indicaram que os desvios poderiam alcançar até R$ 600 milhões, comprometendo severamente a capacidade de atendimento do instituto. Como consequência, centenas de prestadores se descredenciaram do plano por falta de pagamento, gerando descontinuidade nos serviços e insegurança para servidores públicos e seus dependentes.
Paralelamente às investigações, o Ipasgo passou a enfrentar dificuldades crescentes de gestão. Em 2016, mesmo em um contexto de deterioração da rede assistencial e após dois anos sem a reposição da data-base dos servidores, foi autorizado um reajuste de 10,71% nas mensalidades do plano, medida que não foi acompanhada de melhorias proporcionais na qualidade do atendimento.
Reestruturação
Ao assumir o governo em 2019, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) determinou uma revisão ampla dos contratos do Ipasgo e a adoção de medidas para interromper práticas irregulares identificadas pelas investigações. Desde então, o Estado investiu aproximadamente R$ 480 milhões para recompor o equilíbrio financeiro do instituto, regularizar pagamentos e recuperar a rede credenciada.
Como parte do processo de reestruturação, o Ipasgo foi transformado em Serviço Social Autônomo, conforme determinação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), alterando o modelo de gestão e ampliando os mecanismos de controle e transparência.
A crise do instituto ocorreu em um contexto mais amplo de desequilíbrio das contas públicas estaduais. Em 2018, Goiás acumulava dívidas de curto prazo próximas a R$ 7 bilhões, e, em janeiro de 2019, o caixa do Estado registrava apenas R$ 11 milhões disponíveis, segundo dados oficiais divulgados à época. Nesse cenário, a recuperação do Ipasgo tornou-se parte central do esforço de reorganização financeira e institucional do Estado.








