segunda-feira , 07 de abril de 2025 @ 08:02

todo tempo 2 970x250px
nelson moraes
Nelson Moraes é publicitário e escritor

Globo de Ouro de Fernanda Torres não foi “vitória da democracia” ou da “resistência política”. Foi vitória do cinema

Colocar os pingos nos is pode parecer chato ou inconveniente, mas nunca dispensável. A formidável vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025 – inesperada, se considerarmos que nomes como Angelina Jolie ou Nicole Kidman contavam com um, digamos, esquema de lobby mais robusto – coroou uma carreira brilhante e trouxe a credencial do merecimento. Mas é preciso definir com clareza quem sai ganhando com este prêmio (além da própria Fernanda, óbvio).

Certos segmentos da opinião pública estão celebrando o feito como uma “vitória da democracia” ou mesmo da resistência política, tão caras à história da família dilacerada pelo sequestro e assassinato do pai durante a ditadura. Mas calma lá: cinema, antes de mais nada, é uma indústria que alimenta e se retroalimenta do apelo ao público e da resposta de todas as audiências. Um bom filme não se define apenas pela história que ele conta – é uma peça dramatúrgica que procura contribuir para o cinema elaborando com esmero (e, na medida do possível, inovando) a linguagem, a abordagem e, claro, a estrutura. A isso se soma seu impacto no público e nos formadores de opinião, que irão consagrar – ou não – a obra. Sem querer parecer cartesiano ou frio demais, é isso.

Dizer que o Globo de Ouro para Fernanda premiou a democracia brasileira é reducionista – corresponderia a afirmar que se o prêmio fosse para, digamos, Angelina Jolie (que interpretou Maria Callas), a vitória seria do background trágico da ópera. Ou se fosse para Nicole Kidman (cuja personagem em “Babygirl” vive uma saga erótica com um rapaz bem mais jovem), a vencedora teria sido a liberdade de manifestação sexual e antietarista.

Quem ganha é a sétima arte. Com sua riqueza de formas de expressão e de contribuições para o espírito de sua época e, por que não, para a indústria, que precisa se reciclar permanentemente para continuar existindo. Desnecessário dizer que a resistência política e a luta contra o totalitarismo são e serão sempre essenciais em uma sociedade livre, mas estamos falando aqui é de premiação em um certame do show business, e no que isso representa como legado.

No mais, viva nossa Fernanda. E viva o cinema.

(Por Nelson Moraes – publicitário e escritor)

todo tempo 2 970x250px