Gustavo Lima e você, goiano. Essa matemática pode ir para as urnas e isso está agitando os bastidores políticos mais do que a grande plateia. A grande plateia sacode a poeira das especulações, comemora e contesta, porque há muito já não leva a sério tudo que é política. Os políticos goianos, sim. Eles estão preocupados.
É como naquela história em que o cidadão chega na última hora pra pegar o avião e quer logo a poltrona da janelinha. Já ouviu isso? Gustavo Lima é o cara de quem os políticos puxam-saco porque o eleitor, esse fã, se sente íntimo dele. Os políticos gritam em Ciro desafinado tentando tirar uma casquinha dessa popularidade. E agora, essa: Gustavo, que acumula dente ao redor só de abrir a boca, quer sair de sua vidinha de estrela e ocupar um espaço que é cobiçado e disputado a tapas e murros pelos profissionais do encantamento de eleitor.
Puxar Gustavo Lima para o jogo político é uma estratégia para jogador de xadrez. O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) vem cortejando-o porque seria um “ativo” arrebatador de multidões, tudo que ele sonha como pré e candidato a presidente da República. Gustavo ou está dando uma de esperto e surfando na fama e na vaidade alheia, ou foi mesmo fisgado na própria vaidade. A política não dá mais dinheiro que a vida de cantor. Todos sabem. A não ser que… Sendo assim, só o ego é capaz de fazer um pássaro milionário recusar alpiste dourado.
Gustavo pode se animar demais e o feitiço levá-lo a querer o mesmo que Caiado quer. Ou complicar a vida do goiano ambicionando o seu lugar atual, no Palácio das Esmeraldas, o que seria um problemão com o vice, Daniel Vilela, que assumirá o governo em abril do ano que vem para ir à reeleição. Pelo menos esse é o roteiro sabido e ratificado hoje por Caiado. Mas não parece ser nada disso o que está na tela é na mesa. O Senado combina mais com a mexida no tabuleiro. Se for isso, muito barulho está sendo feito, e não será para nada. Caiado está na mídia, Gustavo está na mídia e a mídia está atordoada com os considerandos e seus efeitos colaterais.
O impacto em Goiás é que seria curioso. Na transição de ciclos entre a era Caiado-Iris e a nova, sem liderança que se destaque – por enquanto, acredita-se -, a entrada em cena de Gustavo altera todo o processo. Ele estará, na prática, tomando de quem o lugar na fila? E ele entra pra continuar no jogo estadual ou só pra brilhar no Congresso, sem compromisso com goianos? Gustavo vem pra ficar ou só pra ciscar, tipo assim: afagar o ego, ter um espaço de fala para os interesses do seu público agro e brincar de embaixador com mandato e tudo?
A participação ou não de Gustavo Lima na política virou um show à parte. Abriram uma porteira e a disparada pelo cerrado é um estouro de boiada. Quem mais paga o consumo de Gustavo Lima nas paradas e palanques nos municípios é o produtor rural. O grande produtor. Porque ouvir é uma coisa; pagar é que são elas. Voltamos ao ponto: Gustavo Lima ganha mais como cantor, então por que se meter na política? Cantor ele continuará sendo, com um mandato. A diferença aí é que, além da potente voz e a eventual presença carismática nos eventos, ele será, em igual medida, um afinado agropolítico em causa própria, o mineiro neogoiano de palco e palanque e estilo universal. Produto para exportação. Se é que não chegou aqui por isso.
(Por Vassil Oliveira)