Em um marco histórico para a medicina na América Latina, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) realizou a primeira cirurgia cerebral experimental voltada para o tratamento da obesidade mórbida. O procedimento, parte de um projeto de pesquisa em parceria com a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, busca reduzir a compulsão alimentar por meio da estimulação do cérebro.
O primeiro paciente a se submeter à cirurgia foi Ivan dos Santos Araújo, de 38 anos, que pesa 183 quilos. Ele luta contra a obesidade desde a infância e já tentou diversos tratamentos sem sucesso. Com a cirurgia, Ivan espera retomar uma rotina mais ativa. “Minha expectativa é boa em voltar às minhas atividades. Gostava muito de brincar com minha filha. Retornar ao meu trabalho”, afirmou o paciente.
Como funciona a cirurgia?
O procedimento consiste na implantação de eletrodos no núcleo accumbens, região do cérebro associada ao prazer e à recompensa. A estimulação desse ponto pode ajudar a reduzir a compulsão alimentar, um dos principais fatores da obesidade mórbida. Segundo o neurocirurgião Osvaldo Vilela, responsável pelo procedimento, a ativação do sistema libera neurotransmissores como a dopamina, promovendo saciedade e bem-estar.
A pesquisa, iniciada em 2017 e aprovada pelo Comitê Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP) em 2018, sofreu atrasos por falta de recursos. “Só recentemente, graças à ajuda de algumas empresas, conseguimos iniciar o projeto”, explicou Vilela.
Acompanhamento e perspectivas
Durante dois anos, Ivan e outros quatro pacientes serão acompanhados pela equipe de neurocirurgia e endocrinologia do HC-UFG. Nos três primeiros meses, os polos dos eletrodos serão testados em diferentes configurações, e a opção mais eficaz será mantida até o fim do estudo.
Apesar do avanço, a cirurgia ainda é experimental e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
Essa iniciativa pioneira pode abrir caminhos para novas abordagens no tratamento da obesidade, uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O sucesso do estudo poderá representar uma revolução no combate à doença, trazendo mais qualidade de vida para os pacientes.