O Ministério Público Militar concluiu que o soldado Wenderson Nunes Otávio, de 19 anos, encontrado morto com um tiro na cabeça dentro de um quartel no Rio de Janeiro, não cometeu suicídio, como inicialmente informado pelo Exército. A apuração oficial aponta que o disparo foi feito por um colega de farda, o ex-soldado Jonas Gomes Figueira, dentro do alojamento do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista.
Disparo foi acidental, mas houve tentativa de encobrir o caso
Segundo as investigações, o disparo ocorreu durante uma suposta “brincadeira” com arma de fogo. Figueira teria apontado uma pistola 9mm para Wenderson, acreditando que estava descarregada, e atirou acidentalmente enquanto o colega calçava o coturno. Testemunhas relataram que Figueira já havia feito esse tipo de “brincadeira” antes.
Além disso, militares relataram que receberam ordens diretas para sustentar a versão de suicídio e que foram proibidos de falar com a família da vítima. Mensagens interceptadas pelo MP mostram tentativas de identificar quem prestava depoimento e reforçar o silêncio no batalhão.
“Mesmo assim, a gente falou. Porque estava errado”, afirmou um dos soldados ouvidos.
Comandante e sargento também foram indiciados
O terceiro sargento Alessandro dos Reis Monteiro foi indiciado por negligência, já que não fiscalizou a entrada da arma no alojamento — prática proibida pelas normas do Exército. Já o comandante da unidade, tenente-coronel Douglas Santos Leite, é acusado de articular a narrativa de suicídio logo após o ocorrido.
A investigação desmente a versão oficial inicial e reforça a suspeita de tentativa de encobrimento institucional.
Família sente alívio com a verdade
Para os pais de Wenderson, a dor da perda permanece, mas há um sentimento de alívio com a confirmação de que o filho não tirou a própria vida.
“Muito aliviado em saber que a Justiça está sendo feita”, declarou o pai, Adriano.
“A dor não vai passar, mas agora sabemos a verdade”, completou a mãe, Cristiana.
Defesa nega acusação
Em nota, a defesa de Jonas Figueira afirmou que ele é inocente e que a acusação do Ministério Público será contestada no processo. Segundo os advogados, não há justa causa para a denúncia por homicídio qualificado.
O Exército, por meio de nota oficial, afirmou que todas as providências adotadas seguiram preceitos legais e institucionais, e que em nenhum momento foi feita comunicação formal sobre a causa da morte. A corporação diz que agiu com ética, verdade e respeito à família.