Hoje, as redes sociais têm ocupado um espaço central nas discussões sobre saúde mental, especialmente no que diz respeito a crianças e adolescentes. Embora essas plataformas possam promover conexões e até oferecer um senso de pertencimento, o uso excessivo tem se mostrado um gatilho para o aumento de transtornos emocionais, incluindo a depressão. Considerado um problema mundial de saúde pública, o transtorno depressivo maior tem se espalhado como uma epidemia silenciosa, atingindo milhões de jovens em todo o mundo.
Estima-se que entre 10% e 20% das crianças e adolescentes sofram de algum transtorno mental, sendo a depressão um dos mais prevalentes. No entanto, diagnosticar essa condição na infância e na adolescência é desafiador. Suas manifestações podem ser confundidas com mudanças típicas da fase de crescimento, como agressividade, tristeza ou birras, o que mascara a gravidade do quadro e atrasa o início do tratamento.
É fundamental reconhecer que crianças e adolescentes, por ainda estarem em processo de amadurecimento emocional e cognitivo, nem sempre conseguem nomear o que sentem ou buscar ajuda por conta própria. Por isso, o olhar atento de pais, educadores e profissionais de saúde torna-se essencial. Isolamento social, queda no rendimento escolar, alterações no sono, irritabilidade persistente e até dores físicas sem causa aparente podem ser manifestações silenciosas de um sofrimento psicológico profundo.
Em minha experiência como psicóloga, percebo que muitas vezes o diagnóstico é feito de forma tardia, o que compromete a eficácia da intervenção. A falta de informação e de diálogo aberto sobre saúde mental ainda é um obstáculo importante. É fundamental que a sociedade, os profissionais e os familiares compreendam os sinais da depressão infantil e adotem uma abordagem mais assertiva e cuidadosa. O acesso limitado a serviços especializados também agrava o cenário, já que muitas crianças e adolescentes não contam com o suporte necessário para lidar com a condição.
Investir em políticas públicas, ampliar a presença de psicólogos nas escolas e fortalecer campanhas de conscientização são passos urgentes. A participação ativa da família no processo terapêutico pode ser decisiva para a recuperação, ajudando a criar um ambiente de acolhimento, escuta e apoio constante, que favoreça não apenas o tratamento, mas também a prevenção.
O Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) oferece um ambiente seguro e preparado, onde jovens e suas famílias recebem suporte para enfrentar questões emocionais e psicológicas. As equipes assistenciais seguem protocolos de avaliação de riscos e são capacitadas para identificar sinais de alerta em todos os atendimentos, tanto em pacientes quanto em familiares. Esse olhar atento, aliado ao compromisso com o cuidado, pode ser o alicerce para a recuperação de quem enfrenta um momento difícil e, ao mesmo tempo, um chamado à sociedade para que a saúde mental infantojuvenil seja tratada com a seriedade que merece.