O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou neste domingo (27) que a aplicação de tarifas de 50% sobre produtos importados de diversos países — incluindo o Brasil — começará nesta sexta-feira, 1º de agosto, sem qualquer prorrogação. “O 1º de agosto é para todos”, afirmou o republicano ao reiterar a medida, considerada uma das maiores sobretaxas comerciais em vigor no mundo atualmente.
Apesar da pressão do setor produtivo brasileiro e dos esforços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os canais de negociação com Washington permanecem fechados. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), chegou a informar a empresários que o Brasil tentaria negociar um adiamento de até 90 dias — proposta já adotada em abril para tarifas recíprocas —, mas o pedido foi rejeitado pelos americanos.
“Não haverá prorrogação nem mais períodos de carência”, reforçou o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, em entrevista à Fox News. “As tarifas serão fixadas e as alfândegas vão começar a arrecadar o dinheiro.” Ainda segundo Lutnick, Trump estaria aberto a negociações futuras, mas apenas após a entrada em vigor das novas tarifas.
Impactos no Brasil
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o agronegócio brasileiro será o setor mais prejudicado. Segundo a entidade, o país poderá deixar de exportar cerca de US$ 5,8 bilhões em produtos para os Estados Unidos, o que representa uma queda de 48% nas exportações em relação a 2024. A tarifa de 50% deverá praticamente eliminar as exportações brasileiras de suco de laranja aos EUA — destino de 42% dos embarques do produto.
A preocupação com os impactos já chegou ao setor produtivo americano. Uma distribuidora de suco de laranja nos Estados Unidos entrou na Justiça contra a medida, alegando riscos de demissões em massa e possível encerramento de operações.
No Brasil, estados com forte dependência do comércio exterior, como o Ceará, estão se mobilizando. O governador Elmano de Freitas (PT) terá reunião com Alckmin nesta terça-feira (29) para discutir os desdobramentos da medida. A comitiva cearense será composta por representantes da Fazenda estadual, da Procuradoria-Geral do Estado e de entidades empresariais, como a Fiec e a Faec, além de empresários diretamente afetados.
EUA fecham acordos com outros países
Enquanto mantém a postura dura com o Brasil, os Estados Unidos vêm firmando acordos comerciais com outros países para reduzir o impacto das tarifas. Neste domingo, Trump anunciou um pacto com a União Europeia, que estabelece uma alíquota de 15% para a maioria dos produtos europeus, abaixo dos 30% inicialmente cogitados.
Além da UE, os EUA já firmaram acordos semelhantes com o Japão, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Reino Unido e China. Os pactos incluem, além da redução das tarifas, compromissos bilionários em investimentos e compras de produtos americanos, principalmente nos setores de energia e defesa.
Segundo Trump, o objetivo da política tarifária é incentivar a reindustrialização do país. “Queremos trazer empregos e fábricas de volta aos Estados Unidos”, declarou ao anunciar o pacote em abril, durante cerimônia na Casa Branca.
Com o prazo final se aproximando e poucas perspectivas de reversão, o Brasil segue em alerta diante do risco de retração nas exportações, aumento no desemprego em setores ligados ao mercado externo e perda de competitividade internacional.