domingo , 13 de julho de 2025 @ 12:07

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Foto: Divulgação

Mais um textão sobre “Adolescência”, da Netflix? Sim e, principalmente, não

Claro, a série está dando o que falar (e o que postar), virou assunto compulsório nas redes sociais, lidera o top 10 da Netflix e, até o momento em que essas linhas são escritas, quase 30 milhões de pessoas já o haviam assistido mundo afora. Mas vamos nos ater à questão da chamada lá em cima: por que este é mais um textão sobre “Adolescência” e por que não é?

 

A primeira resposta é autoexplicativa. Basta ver que não se trata de um, digamos, texto curto. Já a segunda passa pelo real assunto de que a produção trata, e isso, até onde sei, não constou na maioria dos textões falando da série.

 

“É sobre um brutal assassinado (supostamente) cometido por um garoto de 13 anos”. Ou: “São quatro episódios inteiramente rodados em plano-sequência”, ou “Conta com um jovem ator estreante que mostra um talento descomunal”, ou ainda “Mostra a crueldade do bullying virtual”. Teriam sido estes os tópicos mais explorados até então.

 

Mas, para mim, o tópico fundamental da série é outro. A despeito desses três aí estarem lastreados na mais pura verdade verificável, “Adolescência” trata, de modo essencial, e por isso mesmo não tão perceptível, de um tema mais delicado do que aparenta: a família.

 

Um núcleo familiar inteiramente devastado pela inesperada e inacreditável tragédia envolvendo o filho caçula, o que de uma forma ou de outra acaba unindo ainda mais a família (a cola da dor, como queiram), principalmente quando ela passa a ser visada negativamente – e até atacada – pela comunidade.

 

Um policial que, no curso das investigações, se aproxima do filho (colega de escola do acusado e da vítima) mais do que já havia feito em toda a vida – o que inclusive colabora para que seja vislumbrado o real motivo do crime. Uma psicóloga que, na entrevista com o garoto acusado, traz como teor da sessão os laços familiares do paciente (principalmente os parentais), tentando elucidar em que eles influíram para a consumação da tragédia.

 

E finalmente, a família da garota assassinada que, se não aparece expressamente no filme, tem sua lancinante dor permeando os quatro episódios, na base de “e se fosse com uma filha sua?”

 

Atuações excepcionais de todo o elenco? Óbvio. Apuradíssimas direção e técnica de filmagem? Sem a menor dúvida. Narrativa crua e intensamente crível? Evidente. Mas, mais do que tudo, um registro de como qualquer contexto familiar, por mais estreito, coeso e sólido que seja, também vive a fragilidade do eventual confronto com o imponderável, que de um momento para outro põe tudo a perder. Muitas vezes irreversivelmente.

 

Por fim, não poderia deixar de registrar que Stephen Graham, ator principal e roteirista da série, mostra por que é um dos maiores profissionais das artes cênicas contemporâneas. Não há dúvida de que se trata de uma história que veio fazer História.

 

(Por Nelson Moraes)

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