sábado , 26 de julho de 2025 @ 08:21

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Sobretaxa de Trump ao Brasil já impacta exportações de pescados, manga e carnes

A sobretaxa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começa a provocar efeitos imediatos na economia nacional. Anunciada pelo presidente Donald Trump na semana passada, a medida está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto e já levou setores como pesca, fruticultura e frigoríficos a suspenderem embarques para o mercado americano.

Empresários e associações de produtores alertam para o risco de colapso em cadeias produtivas que dependem das exportações. Em alguns casos, até 70% da produção nacional é direcionada aos EUA.

Pescados podem parar totalmente

O setor de pescados anunciou nesta terça-feira (15) que suspenderá todas as exportações ao mercado americano nos próximos dias. Segundo Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Pesca (Abipesca), sem alternativas imediatas, até 3.500 embarcações devem ser paralisadas.

“Não conseguimos abrir novos mercados da noite para o dia. É uma relação complexa com hábitos de consumo, padrões de corte e exigências de embalagem”, afirma. Mais de mil toneladas de pescado já estão estocadas em frigoríficos à espera de uma solução — um prejuízo estimado em US$ 50 milhões.

A Abipesca pressiona o governo federal por negociações que adiem a sobretaxa por ao menos 90 dias e defende a retomada de acordos com a União Europeia, que desde 2017 mantém restrições ao pescado brasileiro.

Manga madura sem destino

Na fruticultura, a situação é igualmente preocupante. A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas) confirmou a suspensão das exportações de mangas ao mercado americano. A janela de embarque para os EUA, que começaria em agosto, está comprometida.

“A fruta não espera. Ela amadurece e precisa ser colhida, mas não há para onde enviar”, alerta Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da entidade. Sem os contratos americanos, o setor pode ser forçado a direcionar estoques ao mercado interno, provocando queda de preços ao consumidor, mas com enormes prejuízos aos produtores e ameaça de demissões no Nordeste, principal polo da atividade.

Em 2023, 15% da produção nacional de manga foi exportada, tendo os EUA como principal destino da fruta in natura.

Frigoríficos suspensos

Frigoríficos também começaram a paralisar a produção voltada para os EUA. Em Mato Grosso do Sul, a maioria das plantas frigoríficas interrompeu os trabalhos para o mercado americano, com o objetivo de evitar acúmulo de estoques.

“Quem vai pagar o imposto é o importador americano. Com a tarifa vigente em agosto, a importação se tornará inviável”, explica Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de MS (Sindicadems). Ele afirma que as empresas estão tentando redirecionar parte da produção para países como China e Chile.

Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, atrás apenas da China. Em 2025, o mercado americano respondeu por cerca de 14% da receita total das exportações do setor. Somente no primeiro semestre, o país comprou 181 mil toneladas de carne brasileira, um crescimento de 112% em relação ao mesmo período de 2024, gerando receita de mais de US$ 1 bilhão.

Governo sob pressão

Em reunião com ministros e o vice-presidente Geraldo Alckmin, o governo orientou setores afetados a mobilizar seus compradores americanos para pressionar pela suspensão da medida. Mas, até o momento, não houve sinalização de Washington para rever a sobretaxa.

Enquanto isso, a indústria brasileira segue em alerta. Além das perdas imediatas com a paralisação dos embarques, há o temor de demissões em larga escala e impacto direto no preço de alimentos no mercado interno.

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